Red Hair's
Alguns
dias antes do acontecido eu tinha até brincado com isso... “E se eu conhecesse
outro alguém? ”, mas nada passava de meras suposições para rir um pouco. Olho
para trás agora e vejo que realmente as palavras tem poder. Mas nada posso
fazer. O coração quer o que o coração quer.
No
início disso tudo, eu nem fazia ideia do que eu estava fazendo quando resolvi
viajar com pessoas que eu não conhecia. Claro que iria ter algumas pessoas que
eu gostava lá, mas pelas circunstancias da viagem, nem iriamos nos ver. E foi o
que aconteceu. Passei 12 horas de viagem com pessoas que eu nunca tinha visto
na minha vida. Meu plano era: “Você só está viajando com eles, quando chegar
lá, procure seu grupo e pronto. ”, mas não deu muito certo. “Meu grupo” não
tinha aparecido e eu tinha que socializar. Que saco. Fui colocado numa cabana
com mais outros cinco garotos.
Não
dava a mínima para eles, tanto que eu nem ficava na cabana direito, passava a
maior parte do tempo sozinho, perambulando pelo hotel, imaginando o que eu
faria se meus amigos estivessem ali comigo. Tenho certeza que se eles tivessem
ali comigo naquela hora, nada disso teria acontecido. Depois de disfarçar o
verdadeiro eu para os garotos da cabana, que achavam eu que estava pegando uma
garota lá do hotel (tolos), cansei de me isolar. Numa noite, voltando da
piscina onde eu tinha estado com minha amiga (a que os garotos achavam que eu
pegava), minha cabana estava lotada. Tinha muitas garotas lá. Todos estavam
jogando baralho e me chamaram para jogar também. Eu não estava com a mínima
vontade de sentar ali com aquelas pessoas e jogar. Eu não me identificava com
eles. Até que eu reparei em alguém.
Aceitei
o convite para jogar e fiquei longe desse garoto que até então eu não sabia o
nome (admito). Tinha algo que me intrigava nele. Não sei se era o fato de não
saber seu nome, ou de não conseguir tirar os olhos dele ou sei lá... Ele era
engraçado. Misterioso e engraçado. Os jogos rolaram até altas horas da
madrugada e um a um, todos foram se ausentando. No final restamos apenas: Eu, o
garoto misterioso “desconhecido” (eu só não sabia seu nome), duas irmãs gêmeas
e uma outra garota. Resolvemos ficar acordados até o amanhecer. Conversa vai e
conversa vem, o garoto “sem nome” me intrigava cada vez mais. Eu estava me
sentindo confortável com aquelas pessoas. As gêmeas dormiram, restando apenas
os três sobreviventes.
Foi
a partir daí que tudo começou a funcionar. Não sei como, mas falamos de
política e junto com isso veio o estatuto da família. Reclamei dele e depois de
alguns argumentos eu disse que era gay. Olhei para o garoto que parecia não se
importar com o fato da minha sexualidade. “Droga”, pensei. “Ele é apenas mais um hétero simpatizante”. O dia raiou e com isso
chegou a hora do café da manhã. Saímos da minha cabana e fomos comer. As
garotas resolveram tomar banho, deixando-me a sós com o hétero simpatizante.
Ele perguntou se a minha sexualidade não me atrapalhava na conexão com Deus e
eu falei o que eu sentia em relação a isso. Estava tudo tão tranquilo quando a
bomba veio de repente. “Eu sou bi”, disse ele.
Quase
engasguei com o que eu estava comendo. Sorri e tentei não parecer desesperado.
Era uma chance. Eu tinha chance com ele. Meu hétero simpatizante desconhecido
tinha se tornado bi desconhecido. Eu precisava saber o nome dele, mas não tinha
coragem de perguntar. Passamos várias horas juntas. A cada momento eu descobria
algo a mais sobre ele e sabia (mais ou menos) qual era seu nome. Para não
admitir que não sabia como lhe chamar, inventamos um apelido parecido com o
nome real. UFA. Tinha me livrado dessa, mas eu ainda o queria. Tentaria de
todas as formas. No início da tarde voltamos até a cabana e ficamos a sós.
Estávamos em quartos separados que ficavam um de frente para o outro. Tomei um
banho, esperando que ele entrasse no banheiro e ficasse ali comigo, mas ele não
entrou.
Terminei
de me arrumar, sempre tentando ficar de frente para a porta para que ele me
visse. Diversas vezes eu parei na porta do quarto dele onde ele usava apenas
uma cueca. Eu queria jogá-lo na cama naquele momento. Tentei não ficar
excitado, mas não estava dando muito certo. Sorte minha ele não ter percebido
(acho). Ele foi tomar banho e eu fiquei parado na porta olhando sua silhueta
através da porta do banheiro (que era feita de vidro e madeira). Esperei ele
tirar a roupa e suspirei. Que homem... Os outros garotos da cabana estavam
voltando então corri até meu quarto e fingi que nada aconteceu. Terminei de
arrumar minhas malas e fiquei esperando ele terminar.
Voltamos
até o ônibus e eu estava torcendo para que conseguíssemos sentar um do lado do
outro, mas não foi possível. Fiquei uns três bancos atrás dele. Na minha mente
isso foi como um tiro. As chances de algo poder acontecer morreram ali. Pelo menos
eu achava que sim. Já era noite quando ele se aproximou de mim. O banco ao meu
lado tinha ficado vazio (temporariamente) e ele se aproveitou disso. Não
poderia ter ficado mais feliz. As garotas que estavam na cabana no dia em que
ficamos a noite toda acordados também estavam ali. Em pé no corredor. Num
rápido plano, convidei-as a sentar no mesmo banco em que eu e o garoto
estávamos sentados. Como o banco iria ficar cheio, eu teria que me aproximar
dele. Fiquei de costas para o Bi e de vez em quando, no movimento do ônibus, eu
o pressionava contra o vidro, sentindo assim sua “saúde” se é que vocês me
entendem.
Eu
queria ficar ali toda a noite, sentindo-o. Mas a posição que ele estava sempre
o incomodava. Mesmo trocando de posições eu dava um jeito de ficar colado nele.
Até que eu fiquei entre suas pernas. Um calor cresceu dentro de mim tão intenso
que eu coloquei todos as saídas do ar-condicionado viradas para meu corpo. Ficamos
ali vários minutos, rindo e brincando e eu querendo deitar sobre ele. Quando já
era tarde da noite, as garotas foram retiradas do banco, restando apenas eu, o
meu bi magia e outro garoto (que parecia que estava a fim de mim). Fiquei
sentado numa posição horrível, mas não queria trocar porquê desse jeito eu
estava ao seu lado. Fiquei fazendo círculos no seu joelho. Era o que eu tinha
coragem de fazer. Toda vez que pensava em subir a mão para sua coxa, minha
respiração pesava. “E se ele não quiser? ”,
pensei.
Até
que ele colocou sua mão sobre a minha. Foi uma explosão de satisfação. Aquilo
era um sinal. Ele me queria. Quando eu achava que não poderia melhorar, sua mão
atrevida entrou em minha camisa e acariciou todo o meu peito. Meu Sangue gelou
nessa hora. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo ali. Não
conseguia respirar direito de tão nervoso que eu estava. Milhões de pensamentos
afloraram na minha mente, mas eu não tinha coragem de realizar nenhum deles,
até que ele fez isso para mim. Com maestria e discrição, posicionou minha mão
sobre seu volume.
Deus...
Como eu queria aquilo. Minha mão passeava por toda sua região e eu estava
segurando um gemido. O medo de sermos descobertos era o que deixava aquela cena
mais excitante ainda, mas o nosso tempo estava acabando. A hora de nos
despedirmos se aproximava. Num gesto romântico e silencioso, ele pegou dois
dedos (o indicador e o médio), beijou-os e colocou-os sobre minha boca. Espero
não ter imaginado isso, pois foi a coisa mais romântica e fofa que alguém fez
por mim. Mas a temida hora veio e nos despedimos. Encostei a cabeça na janela e
quis chorar. Eu o queria para mim.
Seu
nome? Era alguma coisa em grego. O meu algo em Russo. A Grécia e a Rússia estão
distantes mais de três mil quilômetros, mas desta vez ficaram tão próximas que
poderiam se tornar um só. E é isso que eu quero. Vou lutar para que se torne
realidade. E nunca vou esquecer do dia que a Grécia encontrou a Rússia.